Situada a meia encosta, num local onde abunda vegetação,
nomeadamente carvalhos, e a água corre num riacho que mantém o seu caudal praticamente
igual durante todo o ano, encontram-se, no lugar da Ramalheira, as ruínas de um
pequeno templo que foi dedicado a S. João de Latrão e que poderá ser uma das
capelas mais antigas do concelho de Fafe.
A estrutura que hoje é possível admirar mantém a sua firmeza
de outrora e, por isso, o presidente da Junta de Aboim quer agora proceder a
uma limpeza do conjunto e pondera a hipótese de recuperar a capela, caso
consiga os apoios necessários. Ponto assente é que junto à capela passará um
trilho pedestre que irá ajudar a divulgar este património.
Tendo em consideração a bibliografia existente, não é, por
enquanto, determinar o ano em que a Capela de S. João de Latrão na freguesia de
Aboim, foi construída. No livro “As Capelas do Concelho de Fafe”, Maria
Miquelina Summavielle sustenta que esta capela «é também conhecida pela igreja
velha, pois, em tempos, foi igreja paroquial»
Para auxiliar técnico de museografia da Câmara de Fafe, este
poderá ser um templo dos finais da Idade Média, ou seja, provavelmente do
século XIV ou, talvez, do século XV. «É uma belíssima estrutura em granito, com
bons silhares. É uma capela com planta a denunciar a antiguidade deste templo. Temos
uma abside mais estreita relativamente à nave. Depois temos do lado de fora,
junto à entrada em arco, os restos dos bancos de um alpendre. Notam-se os
encaixes das madeiras, portanto, esse alpendre seria em madeira», afirma Jesus
Martinho. A ideia desta capela ter sido igreja paroquial não choca o técnico. «Poderemos
reconhecer isso até pela presença na entrada da capela, do lado direito, de uma
pia baptismal. Ora, na época, os baptismos faziam-se nas igrejas paroquiais»,
sustenta. Na opinião de Jesus Martinho, seria agora importante fazer uma
sondagem arqueológica de forma a recolher algum material que permitisse datar a
capela, ou um determinado momento da sua existência.
Quando terá sido desactivada?
A par da dúvida sobre a fundação, é legitimo perguntar quando
terá sido a Capela de S. João de Latrão desactivada. A esta questão, o
cruzamento das informações contidas nas fontes históricas não dá uma resposta
cabal. Olhando para as memórias Paroquiais, que foram reproduzidas no livro “Fafe
nas Memórias Paroquiais de 1758”, de José Viriato Capela, fica-se com a sensação
que nesse ano o templo ainda tinha culto. O pároco escreve, em 1758, o seguinte
«tem esta freguesia a capella de Sam Joam, chamada da Ramalheira por estar
situada entre os arvoredos. É solitária, accomodada e remitiva. Hé tradição
vulgar fora fundada por um fidalgo dos das Taipa de Basto que hoje é Dom Gastam
Coutinho e que [ ] aquelle sítio fora penitenciado
por sua santidade por alguns delitos. E que das suas rendas tinha fábrica, que
se perdeo desde tempos que nam lembra. E no dia do Santo, vinte e quatro de
Junho, concorrem à dita capella de romagem, muitas pessoas das freguesias
circunvizinhas e quatro clamores com o desta freguesia».
No entanto, em 1726, isto é 32 anos antes, Francisco Xavier
da Serra Craesbeeck escreve no seu livro “Memórias Ressuscitadas da Provincia
de Entre Douro e Minho” que «a sobredita cappella de S. João de Latrão se acha
hoje destruída e as cazas demolidas, depois do falecimento de Manoel Luis de
Saldeanha, Senhor do Morgado da Taipa, que ahi viveo alguns annos, retirado,
sendo então aquele citio (ainda que retirado) aprasivel à vista e vida
contemplativa, o que ainda mostrão os vestígios das murtas do jardim, que então
havia muitas agoas daquele citio».
Não se sabendo ao certo quando é que o culto terá acabado
nesta capela, a verdade é que ela evidencia hoje muitos anos de abandono. O
presidente da Junta de Aboim diz querer preservar este património, tendo já
promovido há quatro anos a limpeza do templo, com a remoção da vegetação que,
entretanto, voltou a crescer. Por isso, António José Novais vai proceder a uma
nova limpeza porque há todo o interesse em preservar e, se possível, recuperar
a capela. «Eu gostaria de ver esta capela recuperada e novamente aberta ao
culto, mas também tenho noção que a Junta, sozinha, não pode fazer isso e vai
ter que conseguir apoios», afirma.
Um dado assente é a inauguração em Novembro do trilho
pedestre dos cogumelos que vai passar junto à capela. «Se este trilho tiver o
mesmo sucesso que está a ter o PR3, na outra parte da freguesia, vão passar por
aqui centenas de pessoas por ano, que, desta forma, irão visitar a Capela de S.
João de Latrão», disse.
In: “Diário do Minho – Suplemento Património”, por José
Carlos Ferreira e Francisco Assis, 25 de Maio de 2006
Fotos: Jesus Martinho 2016