PONTE DE VIZELA um testemunho desaparecido
1ª Campanha de Escavações Arqueológicas no Castro de Santo Ovídio
Este trabalho dá conta dos trabalhos realizados na primeira campanha de escavações arqueológicas no Povoado Fortificado de Santo Ovídio, realizada nos meses de Junho e Julho de 1980, pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, com o apoio da Câmara Municipal de Fafe.
Reprodução da separata da revista "Arqueologia", nº 3, Junho de 1981 (Tip. Minerva - Vila do Conde)
CARRANCA MEDIEVAL DE QUINCHÃES
Carranca de Quinchães - foto da Sociedade Martins Sarmento |
Esta Carranca, de feição Românica, foi encontrada, em 1937, “num monte das proximidades”, alegadamente dentro dos limites da freguesia de Quinchães, pelo arcipreste de Fafe e pároco da referida freguesia, José Novais Rebelo.
A escultura, rara em território fafense, foi oferecida pelo mencionado sacerdote ao Museu da Sociedade Martins Sarmento em Março de 1937.
É provável que esta peça esculpida em granito integrasse a cornija de um templo medieval que não chegou aos nossos dias.
Visite no Museu:
https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/sms/item/37021
Glossário:
CARRANCA – Cabeça, máscara ou mascarão do imaginário fantástico, esculpida em pedra, madeira ou metal, colocada como motivo decorativo em cimalhas, frisos, fontes, chafarizes, lavabos, etc.
CORNIJA – Moldura saliente que remata superiormente um muro.
Necrópole Megalítica do Alto das Casinhas e o Vaso Campaniforme da Cruz do Vargo em Gontim
Pela localização descrita em 1983,
por Henrique Regalo, os monumentos localizavam-se junto do caminho municipal
1637, que liga os lugares de Gontim e Luílhas, este último da freguesia de
Monte. Esta via de montanha, em terra batida, foi alargada sob a
responsabilidade da Câmara Municipal de Fafe, no início dos anos 90 do século
passado. É mais do que provável que a segunda mamoa tenha sofrido a acção
destruidora das escavadoras. Esta possibilidade ganha ainda maior consistência,
com o achado de um pequeno vaso campaniforme, perto do local onde foram
registados os “tumuli”.
Em Janeiro de 1991, o professor de
Fafe, Arlindo Vaz Marques, recolheu um vaso quase intacto, que estava
infiltrado na camada de húmus superficial.
“Trata-se
de um vaso, em forma de campânula, de estilo pontilhado geométrico, de cor
castanha clara com manchas escuras no exterior e no interior.
A pasta é grosseira e friável, com desengordurante de
quartzo e feldspato, de médio e grande calibre.
A decoração organiza-se sobre o colo e a pança e é
constituída por bandas de uma, duas ou três linhas paralelas a pontilhado
profundo, alternadas com linhas oblíquas ou quebradas. Existem ainda resquícios
da substância branca que preenchia os espaços decorativos.
A superfície externa é polida e a interna apenas alisada.
O fundo é umbilical.
Dimensões:
Alt. – 6,7cm
Diâm. de boca – 7,7cm
Diâm. do bojo – 8,8cm
Esp. do bordo – 0,3cm
Esp. do bojo – 0,7cm
Diâm. do fundo umbilical – 3,3cm
O contexto em que foi encontrado o vaso em estudo, isto é, uma zona planáltica com monumentos megalíticos nas proximidades e a inexistência de outros artefactos ou estruturas em associação, invalidam a hipótese de estarmos na presença de um povoado. O facto de o recipiente se encontrar em boas condições de conservação, permite-nos supor que o achado faria parte do espólio de um monumento de âmbito sepulcral, provavelmente destruído pelo estradão. No local do achado parece existir o resto de um esteio, partido recentemente e aparentemente deslocado da sua posição original, o que pode constituir um dado mais em abono desta hipótese”. (2)
Considerando que este vaso de
configuração campaniforme é enquadrável no período Calcolítico (c.
Entretanto temos a lamentar o desaparecimento
de mais um monumento funerário pré-histórico e o desconhecimento do paradeiro do vaso campaniforme.
(1) Técnico superior da UAUM, responsável
pelo levantamento arqueológico do concelho de Fafe em 1983.
(2) Bettencourt, Ana M.S., achado de um
vaso campaniforme na Serra do Maroiço – Fafe, Cadernos de Arqueologia, série II,
8-9, 1991/92, pp. 233 -236.
CAPELA DE S. JOÃO DE LATRÃO É DAS MAIS ANTIGAS DE FAFE
Situada a meia encosta, num local onde abunda vegetação,
nomeadamente carvalhos, e a água corre num riacho que mantém o seu caudal praticamente
igual durante todo o ano, encontram-se, no lugar da Ramalheira, as ruínas de um
pequeno templo que foi dedicado a S. João de Latrão e que poderá ser uma das
capelas mais antigas do concelho de Fafe.
A estrutura que hoje é possível admirar mantém a sua firmeza
de outrora e, por isso, o presidente da Junta de Aboim quer agora proceder a
uma limpeza do conjunto e pondera a hipótese de recuperar a capela, caso
consiga os apoios necessários. Ponto assente é que junto à capela passará um
trilho pedestre que irá ajudar a divulgar este património.
Tendo em consideração a bibliografia existente, não é, por
enquanto, determinar o ano em que a Capela de S. João de Latrão na freguesia de
Aboim, foi construída. No livro “As Capelas do Concelho de Fafe”, Maria
Miquelina Summavielle sustenta que esta capela «é também conhecida pela igreja
velha, pois, em tempos, foi igreja paroquial»
Para auxiliar técnico de museografia da Câmara de Fafe, este
poderá ser um templo dos finais da Idade Média, ou seja, provavelmente do
século XIV ou, talvez, do século XV. «É uma belíssima estrutura em granito, com
bons silhares. É uma capela com planta a denunciar a antiguidade deste templo. Temos
uma abside mais estreita relativamente à nave. Depois temos do lado de fora,
junto à entrada em arco, os restos dos bancos de um alpendre. Notam-se os
encaixes das madeiras, portanto, esse alpendre seria em madeira», afirma Jesus
Martinho. A ideia desta capela ter sido igreja paroquial não choca o técnico. «Poderemos
reconhecer isso até pela presença na entrada da capela, do lado direito, de uma
pia baptismal. Ora, na época, os baptismos faziam-se nas igrejas paroquiais»,
sustenta. Na opinião de Jesus Martinho, seria agora importante fazer uma
sondagem arqueológica de forma a recolher algum material que permitisse datar a
capela, ou um determinado momento da sua existência.
Quando terá sido desactivada?
A par da dúvida sobre a fundação, é legitimo perguntar quando
terá sido a Capela de S. João de Latrão desactivada. A esta questão, o
cruzamento das informações contidas nas fontes históricas não dá uma resposta
cabal. Olhando para as memórias Paroquiais, que foram reproduzidas no livro “Fafe
nas Memórias Paroquiais de 1758”, de José Viriato Capela, fica-se com a sensação
que nesse ano o templo ainda tinha culto. O pároco escreve, em 1758, o seguinte
«tem esta freguesia a capella de Sam Joam, chamada da Ramalheira por estar
situada entre os arvoredos. É solitária, accomodada e remitiva. Hé tradição
vulgar fora fundada por um fidalgo dos das Taipa de Basto que hoje é Dom Gastam
Coutinho e que [ ] aquelle sítio fora penitenciado
por sua santidade por alguns delitos. E que das suas rendas tinha fábrica, que
se perdeo desde tempos que nam lembra. E no dia do Santo, vinte e quatro de
Junho, concorrem à dita capella de romagem, muitas pessoas das freguesias
circunvizinhas e quatro clamores com o desta freguesia».
No entanto, em 1726, isto é 32 anos antes, Francisco Xavier da Serra Craesbeeck escreve no seu livro “Memórias Ressuscitadas da Provincia de Entre Douro e Minho” que «a sobredita cappella de S. João de Latrão se acha hoje destruída e as cazas demolidas, depois do falecimento de Manoel Luis de Saldeanha, Senhor do Morgado da Taipa, que ahi viveo alguns annos, retirado, sendo então aquele citio (ainda que retirado) aprasivel à vista e vida contemplativa, o que ainda mostrão os vestígios das murtas do jardim, que então havia muitas agoas daquele citio».
Não se sabendo ao certo quando é que o culto terá acabado
nesta capela, a verdade é que ela evidencia hoje muitos anos de abandono. O
presidente da Junta de Aboim diz querer preservar este património, tendo já
promovido há quatro anos a limpeza do templo, com a remoção da vegetação que,
entretanto, voltou a crescer. Por isso, António José Novais vai proceder a uma
nova limpeza porque há todo o interesse em preservar e, se possível, recuperar
a capela. «Eu gostaria de ver esta capela recuperada e novamente aberta ao
culto, mas também tenho noção que a Junta, sozinha, não pode fazer isso e vai
ter que conseguir apoios», afirma.
Um dado assente é a inauguração em Novembro do trilho
pedestre dos cogumelos que vai passar junto à capela. «Se este trilho tiver o
mesmo sucesso que está a ter o PR3, na outra parte da freguesia, vão passar por
aqui centenas de pessoas por ano, que, desta forma, irão visitar a Capela de S.
João de Latrão», disse.
In: “Diário do Minho – Suplemento Património”, por José
Carlos Ferreira e Francisco Assis, 25 de Maio de 2006
Fotos: Jesus Martinho 2016
Ponte de Bouças/Sangidos
A ponte de Sangidos, também conhecida por ponte de Bouças, sobre o Rio Vizela, é um importante património Medieval do concelho de Fafe, que faz a ligação entre as freguesias de Fafe e Golães.
Documentos de 1258 referem a existência de uma via que ligava
“Vimarares” (Guimarães) e “Sancta Ovaya Antiqua” (Fafe). Durante mais de seis
séculos esta foi a principal ligação entre as urbes.
A ponte de Sangidos-Bouças, referenciada em documentos coevos
de 1292 é um belo exemplar da arquitectura Medieval, localizada em um lugar de
grande simbolismo, carregado e História. Lembre-se a existência, no local, de
uma leprosaria que funcionou no século XII e XIV.
Construída em alvenaria de granito de grão fino, as pedras
das aduelas apresentam-se bem aparelhadas, enquanto o paramento do pegão
apresenta fiadas irregulares. O seu tabuleiro horizontal, assenta em dois
arcos: Um maior de volta perfeita e outro menor de forma ogival, ostentando
doze siglas lapidares no seu intradorso.
O pegão central é de secção rectangular adossando um talha-mar
em prisma triangular a montante.
Em 2012, o Município de Fafe iniciou trabalhos de restauro no
local, com o objectivo de conservar a velha capela de Santo André e a ponte do
séc. XIII.
Esta última, uma infeliz intervenção, muito contestada por
moradores e amantes do património local, que não favoreceu o velho e
emblemático monumento, nomeadamente no que se refere às suas guardas, de altura
muito reduzida, longe do desenho original, utilizando pedra inadequada e outras
imperfeições que interferem negativamente na estética da ponte.
Memória Descritiva da Ponte de Bouças-Sangidos
Por Hugo Cardoso (Arqueólogo)
A ponte Bouças-Sangidos encontra-se referenciada em documentos medievais desde 1292, integrando uma via medieval com ligação a Guimarães. Há referências a seu respeito nas Inquirições de 1258 e, no local, noticia-se a existência de uma Gafaria que remonta ao século XIII. Na margem direita, junto à ponte, foi erigida uma capela barroca, actualmente em avançado estado de degradação.
A ponte, erigida sobre o rio Vizela, afluente do rio Ave,
liga os lugares de Bouças e Sangidos, das freguesias de Fafe e Golães
respectivamente, pertencentes ao concelho de Fafe, distrito de Braga.
As coordenadas geográficas, segundo a Carta Militar de Portugal na escala 1.25.000, folha – 85, são as seguintes:
Latitude N - 41º 26'53.69´´
Longitude W - 8º 11´50.28´´
Altitude - 250 metros
A ponte Bouças-Sangidos, cujo acesso se faz pela estrada municipal nº106, é de porte modesto, com tabuleiro em cavalete assentando em dois arcos e um óculo. O arco maior, de volta perfeita, tem 8,20m de diâmetro e é composto por trinta e sete aduelas (visíveis). O arco menor, de forma ogival com 3,47m de abertura, compõe-se por vinte e duas aduelas e possui no seu intradorso cerca de 12 siglas lapidares ainda não descritas. Em ambos, as aduelas apresentam uma forma em prisma trapezoidal. O óculo, de forma rectangular mede 1,36m de largura.
O pegão central apresenta-se de secção rectangular, com 5,70m
de comprimento e 2,15m de altura, adossando um talhamar a montante, em forma de
prisma triangular, com a altura de 1,47m e, nas faces laterais, o comprimento
médio de 3,70m. Do lado jusante, o pegão apresenta quatro fiadas de silhares
dispostas em degrau que dão acesso a um terreno de cariz agrícola, criado com o
assoreamento do arco menor.
O tabuleiro da ponte tem cerca de 30m de comprimento e 3,70m
de largura média, correndo na horizontal desde a margem esquerda até ao arco
maior e descendo desde aí até à outra margem.
A ponte é constituída em alvenaria de granito, de grão fino.
As pedras das aduelas apresentam-se bem aparelhadas, mas o paramento do pegão
apresenta fiadas irregulares assentes sem argamassas e sem cunhas.
Hugo Cardoso (Arqueólogo)
O MEGALITISMO EM FAFE NO SUPLEMENTO "PATRIMÓNIO" DO DIÁRIO DO MINHO
Em 2006, o jornal “Diário do Minho” publicou um suplemento sobre património, visando divulgar, semanalmente, os Patrimónios de vários municípios do Distrito de Braga.
O concelho de Fafe foi pioneiro nesta feliz iniciativa da
responsabilidade dos jornalistas: José Carlos Ferreira e Francisco de Assis.
Durante muitas semanas, o rico Património fafense teve o
merecido destaque em belos e aturados suplementos… nunca o Património Histórico
fafense foi tão esmiuçado e profusamente divulgado!
Os suplementos “Património” do Diário do Minho são, ainda
hoje, uma referência incontornável para o conhecimento do Património Histórico
de Fafe!
É nessa medida, que incorporo neste blogue, uma parte do
excelente trabalho que José Carlos Ferreira e Francisco de Assis realizaram, há
14 anos, em Fafe, na vertente da Arqueologia.
Foi, para mim, um privilégio acompanhar, no terreno, os
citados jornalistas e amigos, que não pouparam elogios à minha humilde pessoa…
jamais vou esquecer aqueles momentos de (re)descoberta…
Renovando o meu profundo agradecimento a José Ferreira e
Francisco Assis, em jeito de homenagem merecida, recupero agora o que de melhor
e abrangente se publicou sobre o Património Arqueológico Fafense, que,
actualmente, parece andar sem rumo, no rio do esquecimento.