A estação de arte rupestre de Cabanas pertence à freguesia de
S. Gens, concelho de Fafe. As coordenadas geográficas, lidas a partir da Carta
Militar de Portugal (escala 1:25000, folha nº 86) são as seguintes: lat. 41º
26’ 32’’, long. 07º 06’’ 6’, sendo a
altitude de 685 metros.
Localiza-se no topo de uma elevação sobranceira à E.N. nº
206, depois de passar o lugar de Lameira, em direcção a Fafe, tomando a
primeira estrada à esquerda até ao cruzamento que dá acesso a Montim e Seidões.
O sítio localiza-se a cerca de 100 metros do cruzamento, tomando a estrada de
terra batida que dá até ao lugar de Montim.
A paisagem é aberta, sem nível arbóreo, predominando a
vegetação arbustiva e herbácea.
Sobre um afloramento granítico disposto horizontalmente foram
executados um amplo repertório iconográfico que se compõe de motivos
geométricos, lineares e naturais. (O modo de execução das gravuras não é
reconhecido pela falta de evidencias de carácter técnico, se bem, a técnica de
picotado ou de abrasão continuo em movimento de rotação, ou a combinação de
ambas, são os procedimentos mais provavelmente utilizados na realização. Esta
apreciação deve ser considerada para a totalidade dos motivos referidos nas
distintas rochas.)
Praticamente todo o conjunto das grafias foram gravadas na
zona de suporte de suporte de textura mais fina e superfície mais regularizada
(delimitada pelo traço continuo no desenho), exceptuando uma fossete na parte
mais alterada, onde o granito é mais irregular e onde os grãos de quartzo são
mais marcados.
Apresenta umas medidas máximas de 258 cm de comprimento e 186 cm de largura.
Na actualidade, o estado de conservação é deficiente devido à
existência de uma lixeira, fazendo com que alguns dos depósitos cheguem a
cobrir o suporte. O contínuo depósito de lixos neste local levará a médio prazo
à destruição total da rocha. As morfologias geométricas são preferentemente as
circulares, com um total de noventa e cinco. A tendência dos contornos é a
manterem-se regulares.
Completam o repertório geométrico três morfologias de
tendência rectangular e uma trapezoidal, paletas, que mostram uma alta
divergência formal entre si, ao apresentar todas elas apêndices, simples ou
múltiplos, em um dos lados. Os contornos tendem a ser sinuosos, apresentando-se
os extremos com um ângulo bem arredondado.
As morfologias lineares repartem-se em quatro grupos: as
linhas de tendência rectilíneas, as curvas, as sinuosas e as que por união de
duas rectilíneas conformam motivos em “V”. As primeiras estão presentes em
número de sete; das segundas existem dois exemplares. Uma linha sinuosa e três
motivos angulares formado “V” completam o repertório iconográfico.
Os motivos naturais são os cruciformes, que são representados
mediante duas modalidades, a simples, em diferentes versões, e uma mais
completa à qual se associa um círculo na parte inferior. As primeiras,
compostas pela inserção, preferentemente assimétrica, de dois traços
rectilíneos de diferente longitude, aparecem em três casos e são definidas como
cruzes latinas; uma delas, localizada aproximadamente na parte central da
composição, apresenta três dos extremos com apêndices rematando-se em “T”, e é
definida dentro das tipologias como cruz triunfal, de muletas ou maleiforme. O
outro conjunto de cruzes, oito, mantêm a estrutura das anteriores, mas
rematando-se a parte inferior com um círculo, preferentemente centrado, que num
caso apresenta um ponto na sua parte central; são definidas como cruzes de pé
circular.
Completa o repertório uma morfologia susceptível de ser
definida como radial, ao apresentar uma zona central escavada e da qual partem
quatro linhas ou sulcos. Esta localiza-se no lateral direito.
À parte da clara associação entre morfologia circular e
linhas rectilíneas para conformar motivos cruciformes de pé circular,
observam-se outras associações ou ordenações de motivos similares e divergentes
susceptíveis de destacar. Um modelo de ordenação observa-se entre oito
morfologias circulares, ao disporem-se sete pequenas ao redor de uma de
dimensões sensivelmente maiores; este mesmo esquema repete-se, parcialmente,
entre quatro, ao disporem-se três pequenas à volta de uma maior. Em outros
casos, estas últimas, associam-se a motivos cruciformes, desconhecendo se tal
organização é produto de uma intenção ou se deve a uma casualidade relacionada
com o espaço operativo e o alto número de motivos desenhados sobre ele. Tão
pouco falta a relação morfologia circular/ motivo linear ou no caso de
morfologia em “V” e cruciforme de pé circular. A associação mais completa,
provavelmente pela incompreensão que se tem dela, é a ordenação existente, na
parte inferior central, de círculos e linhas. (…)
(…) A rocha de Cabanas permite um abarcamento cronológico
mais ou menos preciso. A presença de cruzes de pé circular e de tipo maleiforme
vem marcar um momento histórico difícil de definir para o caso concreto, mas
que devem circunscrever-se à Idade Média e/ ou Moderna. Se bem, que a
caracterização cronológica do tipo de cruzes apontado não mostra,
aparentemente, problemática alguma, esta é maior no caso das cruzes latinas
simples, as fossetes assim como o resto do dispositivo iconográfico da presente
rocha deve ser incluído nos termos cronológicos apontados. (…)
In: SAMPAIO, Jorge Davide e GARCIA DIEZ, Marcos, A arte
rupestre do planalto da Lameira (Celorico de Basto e Fafe). Revista de
Guimarães, 110 Jan.-Dez. 2000, p. 189-206.
Leia o trabalho completo em:
https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/rgmr/item/59279
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